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Metade de mim

Metade de mim

10
Jan17

...

Eu

Já passou quase um mês desde que escrevi pela última vez.

 

Têm sido dias iguais, solitários, tristes.

 

Ainda há alturas que não consigo acreditar em tudo o que se passou. Onde ainda tudo me parece surreal.

 

Outras alturas há, em que penso que tenho que ser forte e dar a volta por cima.

 

A tua mãe continua inconsolável, a tua irmã responde-me sempre com duas pedras na mão.

 

Eu tento levar a vida o melhor que consigo, mas nem sempre é fácil.

 

Voltei a dormir no sofá, sem conseguir dormir uma noite seguida.

 

O cão continua a ser a minha única companhia e o único ser vivo terreno naquela casa que me mantem ligada a ti, de alguma forma.

 

Um dia destes enchi-me de coragem e comecei a tratar de ver o que fazer ás tuas coisas, principalmente porque as coisas continuavam todas nomesmo sitio, como naquele fatidico dia 17/11.

 

Não consegui ir além dos sapatos e roupa interior. O resto guardei tudo, para outro dia, outra altura, quando me sentir mais capaz de pegar na tua roupa novamente.

 

Guardei a tua camisola do sporting, a que te ofereci há muitos anos atrás. E as nossas t-shirts da loja.

 

Juntas.

 

Tenho saudades tuas. Todos os dias olho para as nossas fotos no quarto, aquelas fotos que estão na parede, onde estamos sempre a fazer palermices. E todos osdias que o faço, lembro-me das situações.

 

Sinto-me triste, fazes-me falta.

 

Eras o meu melhor amigo. Mesmo quando já eras tu, só a tua presença trazia-me Paz e objectivos de vida.

 

Agora sinto-me muito perdida.

 

Não fui a primeira pessoa a passar por isto nem irei ser a última, mas bolas, custa muito.

 

E ainda mais custa viver com aquela imagem final na minha cabeça.

 

Como é que se ultrapassa isso, saberás dizer-me?

 

Acho que não se ultrapassa, não passa, aprende-se a viver com essa dor.

 

Daqui a três dias, farias 49 anos e não vais cá estar.

 

Já não chegaste lá. E eu não sei como vou passar esse dia.

 

Vai ser a trabalhar, garantidamente, mas o que irei eu sentir? E durante quantos mais anos irei eu lembrar-me de todas as datas que fazem parte da mossa vida e que por alguma ironia do destino, estão sempre juntas datas felizes e tristes?

 

5/4 - 6/4

12/11 - 17/11

Já para não falar das datas comemorativas, que são sempre tão tristes.

 

Este Natal, não foi Natal. E a passagem de ano, foi somente mais um ano que passou.

 

E agora já aqui estamos a dias de ser o teu aniversário.

 

 

13
Dez16

Os outros, em sete meses e meio

Eu

A tua familia é pequena.

 

Conhecias muitas pessoas, tiveste muitos amigos e ainda mais conhecidos.

 

A tua familia esteve presente quando lhes foi possivel.

 

Dos teus amigos, não posso dizer muito.

 

Houve aqueles que estiveram sempre lá, os que foram estando, os que desapareceram e se calhar não eram tão amigos.

 

Por outro lado, nem sempre é fácil,aceitar determinadas situações. Muito menos aceitar que não somos imbativeis e que basta um sopro, para deixarmos de ser.

 

Tiveste amigos que não te falharam, nunca! Do inicio ao fim.

 

E esses é que importam. Os que te deram a mão, te ajudaram, disseram presente.

 

O que mais querias, era viver. Sair, almoçar fora (embora não aguentasses muito tempo sentado e no mesmo sitio e tivesses mais frio que o normal).

 

E tiveste quem te levasse a fazer as coisas de que gostavas.

 

Iamos almoçar fora uma vez por semana, mas havia quem te levasse a passear, a almoçar, a sair da rotina.

 

Tiveste um mês e meio em casa muito feliz.

 

 

 

 

13
Dez16

Eu, em sete meses e meio

Eu

Sou a prova viva que as pessoas, quando se confrontam com uma situação, são capazes de tudo.

 

Durante estes 7,5 meses, vivi para ti.

 

Pode parecer presunçoso, mas é a verdade.

 

O que esteve sempre em primeiro lugar, foste tu e anulei-me completamente.

 

Trabalho por conta própia e o trabalho foi renegado.

 

O importante era o teu bem estar.

 

Andei este tempo em piloto automático. Às vezes, chegava aos sitios sem saber como.

 

Foram dias de muito pouco sono e nenhum descanso.

 

Estive contigo todos os dias. E continuaria a fazer tudo igual.

 

Estiveste a 30 kms de casa, a 50 kms de casa e nunca te falhei, porque naquele momento eu só queria que estivesses bem, que recuperasses e que soubesses quanto eras importante para mim.

 

Durante seis meses, a minha vida foi passada em hospitais.

 

Até ires para a enfermaria, no primeiro mês e meio, mesmo sabendo-te a dormir e acreditando que nada entendias, fui ver-te.

 

Quando começaste a estar acordado, mesmo baralhado, sem falares, só a chorar, ficavamos de mão dada e aqueles momentos eram de ouro, para mim.

 

Quando começaste a estar mais lúcido, falavamos, fazias-me queixinhas das auxiliares, dizias bem dos terapeutas, lias a marca da televisão e iamos até à esplanada do bar do hospital.

 

Durante a semana ia ver-te à hora de almoço, aos fins de semana passava as tarde contigo.

 

Passado o primeiro mês e meio, em que tive por uma ou duas vezes o pensamento que as coisas poderiam acabar por ali, nunca, nos meus piores pesadelos, desisti de ti.

 

Quando foste para os cuidados continuados, mantive a rotina, passeavamos cá fora, estavamos no café do hospital a fazer tempo para as terapias.

 

Volto a dizer: foram meses muito dificeis, onde sempre disse que só me iria abaixo quando já não precisasses de mim.

 

Nunca baixei os braços, nunca me viste triste, a chorar, desesperada, cansada.

 

Durante 7,5 meses foste a minha prioridade. Deixei de ter vida própria.

 

O tempo media-se pelas tuas rotinas, as noites e madrugadas viraram dias.

 

Só voltei a dormir à noite quando voltaste para casa e mesmo assim, bastava virares-te na cama para eu acordar.

 

Fiz muitas vezes de conta que estava a dormir, sentindo-te acordado, para que não te sentisses culpado.

 

Acho que é a isto que chamam amor.

 

 

 

 

13
Dez16

Tu em 7 meses e meio

Eu

Quando tiveste o AVC e foste levado para a ambulância, ainda ias lúcido.

 

A única coisa visivel era que não conseguias falar, mas de resto ainda andavas e sabias que estava alguma coisa a acontecer.

 

Deixaste-me "beijinhos" escrito numa folha de excel, no computador onde estavas a trabalhar, que só vi quando regressei à minha vida.

 

Foi aí que entendi que sentias que alguma coisa não estava bem e foi a tua forma de o dizeres.

 

Variaste muito ao longo do tempo e tornaste-te uma pessoa melhor.

 

É dificil por em palavras a tua evolução, mas nunca, em 7,5 meses mostraste a minima revolta pelo que te estava a acontecer.

 

O que mais querias era ser autónomo e andares e foi isso mesmo que conseguiste em primeiro lugar.

 

Tiveste muitas alturas que estavas completamente baralhado, foi preciso muita paciência para repetir diariamente tudo, para que não te esquecesses.

 

Ficavas frustrado quando estavas uma hora para fazer um exercicio de escrita, mas sempre muito orgulhoso porque a nivel fisico, já tinhas equilibrio e conseguias fazer tudo o que te pediam.

 

Tiveste fases de alucinação, fases em que apenas seguias as pessoas com o olhar e deixavas de ser responsivo.

 

Ficaste impaciente. Não conseguias estar muito tempo a ver o mesmo - excepto futebol - e nem muito tempo no mesmo lugar.

 

Por vezes, vinhas de manhã comigo, nos dias em que as terapias eram pela fresca, mas às 12h30 já querias almoçar, ir embora, sair de lá.

 

Não recuperaste totalmente a memória, mas continuaste sempre a saber o dia em que o teu clube jogava, quem jogava, quando, quem eram os jogadores.

 

Mantiveste a dificuldade de escrita, mas desenvolveste a fala e o raciocinio.

 

Foste autónomo até ao fim, gostaste de mim até ao fim, quiseste-me diariamente ao pé de ti até ao fim.

 

 

13
Dez16

A todos os 17 de Novembro da minha vida

Eu

Foi um dia como qualquer outro, na nossa vida.

 

Já estavamos habituados às rotinas.

 

Eu levantava-me primeiro, arranjava-me e ia tratar do cão.

 

Acordava-te. Enquanto te arranjavas, eu fazia o pequeno almoço.

 

Nesse dia, as terapias eram à tarde. Como tal, deixei-te sentadinho no sofá a ver televisão e fui trabalhar (larguei o part-time e dediquei-me novamente à minha actividade, com horários muito reduzidos, para te poder acompanhar o máximo possivel).

 

Como sempre, às 13h estava em casa a dar-te o almoço.

 

Almoçamos, estivemos a ver uma série e fomos para as terapias. Às quintas, tinhas duas terapias.

 

Fomos, voltamos, deixei-te em casa eram 17h30, cumprindo o ritual de sempre: esperava que abrisses a porta de casa para regressar ao trabalho.

 

Às 19h05, como habitualmente, estava em casa.

 

Abri a porta, disse-te o olá habitual e tu dizes: não faças jantar para mim, que depois do iogurte fiquei mal disposto.

 

Caiu-me tudo aos pés. Com a maior calma possivel fui buscar o medidor de tensão. Tinhas a tensão normal.

 

Perguntei-te: mas sentes o quê?

 

Sentaste-te e disseste-me, apontando: esquisito aqui na cabeça.

 

Foram as tuas ultimas palavras. O teu corpo deu um salto e começaste a arfar.

 

Liguei logo para o 112, os bombeiros foram rápidos.

 

Mal chegaram, começaram logo a fazer-te reanimação e mandaram-me sair da sala.

 

Eram 20h39 quando, já dentro da ambulância à porta de casa, me morreste.

 

Para todos, morreste ali, para mim, morreste-me nos braços, pouco depois das 19h.

 

 

13
Dez16

Em casa

Eu

Foste para casa a 3 de Outubro de 2016.

 

A 3 dias de completares 6 meses de ausência, era o que mais querias.

 

Desde a reunião com a equipa médica, tinha sido informada de como tinha que ser a tua nova vida.

 

Muito regrada, levantar às 8h, deitar às 22h.

 

Fazer as terapias, caminhadas, comer a horas certas e não falhar a medicação (estavas a tomar 8 comprimidos diariamente).

 

Estavas o rei do relógio. Tudo era cronometrado ao segundo, não podia escapar nada.

 

Não reclamavas com nada, deitavas-te e acordavas bem disposto, comias certinho e ia-te levar às terapias diariamente.

 

Notava-se que tinhas dores, especialmente no braço direito, mas desvalorizavas sempre.

 

E assim foi, durante um mês e meio...

13
Dez16

Cuidados continuados

Eu

Passaram-se então três meses desde que tiveste o AVC.

 

Foste para os cuidados continuados a 5/7.

 

Sitio novo, gente nova.

 

Sempre que mudavas de sitio, via-se o pânico nos teus olhos, por não entenderes o que se estava a passar.

 

A ida para os continuados foi mais pacifica, até porque fiquei o dia todo contigo.

 

Ligaste-me a dizer que ias sair do hospital e eu fui logo para aquela que seria a tua nova casa durante mais três meses.

 

Quando chegaste, vinhas bem disposto, numa cadeira de rodas, agarrado ao caderno que te tinha comprado para treinares a escrita - que ainda hoje guardo - e à bolsa com os artigos de higiene.

 

A roupa vinha em sacos, quem a levou foi um dos senhores que te trouxeram.

 

Após a primeira triagem de enfermagem com indicação das normas de visita e a vinda da médica para também te avaliar, ficamos ali. Tu na cama, eu sentada numa cadeira.

 

Tinhas dois colegas de quarto.

 

Disseram-nos que irias fazer fisioterapia, terapia da fala e terapia ocupacional.

 

Começaste a fazer tudo passado três dias e a tua motivação era inspiradora.

 

No último mês, começaste também a fazer terapia cognitiva diariamente (já fazias um bocadinho desse trabalho com o rapaz da acção social, mas acharam que terias que fazer mais a sério).

 

A tua vida durante três meses, foi essa, sem nunca reclamares, mas sempre a contar os dias de volta a casa.

 

Na reunião de saída, três meses depois (3/10), disseram-te que não poderias voltar à tua profissão, nunca mais.

 

Que não valeria a pena continuares a fazer fisioterapia, pois já tinhas evoluido o que era possivel (ficaste com um défice a nivel de perna e braço, mas estavas autónomo) mas que seria conveniente continuares com as restantes terapias.

 

A nivel de segurança social, eles não tinham acordo, mas optei por fazer mais um esforço e sabendo que não eras apologista de mudanças e muito mais no teu estado, acabaste por ficar no mesmo sitio, a fazer as terapias diárias a nivel particular.

 

Mas isso já é uma nova fase.

 

Saiste a 3/10, bem disposto, feliz, a falar com toda a gente e passados seis meses, ias regressar novamente a casa!

13
Dez16

A recuperação

Eu

Cerca de um mês e meio depois de teres tido o AVC, foste então transferido para outro hospital, enquanto não tinhas vaga nos cuidados continuados.

 

Por lei, tem-se direito a três meses de reabilitação, após um AVC, mas as listas de espera são longas e as pessoas ou aguardam em casa, independentemente do seu estado, ou podem dar-se ao luxo de irem para o privado.

 

No teu caso, acabaram por transferir-te para outro hospital, onde, felizmente, houve uma equipa espetacular que não desistiu de ti.

 

Podias ter ficado lá, simplesmente... mas não, desde o inicio que te puseram a fazer fisioterapia.

 

O inicio desta nova etapa, não foi fácil.

 

O que querias mesmo, era andar e foi nisso que te focaste.

 

No primeiro dia, recebi logo a informação que eras teimoso, querias fazer as coisas à tua maneira. Não estavas responsivo, enfim.

 

Mas a vontade era tanta, que contra todos os prognósticos e aquilo que era normal nestes casos, evoluiste de tal forma que quando foste para os cuidados continuados, já ias a andar.

 

Médicos, enfermeiros, famila, ninguém queria acreditar.

 

Pela primeira vez começaste a sair do quarto - ainda em cadeira de rodas, que o equilibrio ainda  não era total. Iamos até à esplanada do bar do hospital, e ficavamos lá a falar.

 

Eu continuava a achar que tu falavas cada vez melhor, já te entendia perfeitamente.

 

Havia pessoas que não te entendiam, outras que percebiam algumas coisas, mas de uma maneira geral, e após aqueles primeiros tempos, todos achavam que as melhoras eram visiveis.

 

Começaram também a fazer jogos de destreza manual, a ajudarem-te a escrever, a ver as horas.

 

Perdeste toda a capacidade de raciocinio.

 

Aos poucos começaste a conseguir ler fluentemente, embora continuasses com dificulade de expressão oral e escrita.

 

Estavas desesperado para sair dali. Querias ir para casa.

 

Todos os dias te explicava que não irias já para casa, mas sim para outro sitio, que eu não designava como hospital, mas sim como centro de reabilitação, para não te ser tão penoso.

 

Passaste mais um mês e meio ali, rodeado de alucinações (para ti, sempre que médicos e enfermeiros falavam, era sobre ti. Havia incêndios, coisas descabidas da tua imaginação, que eram dificeis de lidar).

 

Com a medicação, as coisas foram-se atenuando, tu recuperavas a olhos vistos e passado um mês e meio, chegou finalmente o dia em que irias ser transferido para os cuidados continuados, num hospital já perto de casa que tinha esse acordo com a segurança social e a tua esperança renasceu.

12
Dez16

Depois da tempestade...

Eu

Estiveste pouco tempo nos cuidados intermédios... cerca de 3/4 dias, se a memória não me falha.

 

Rapidamente foste passado para uma enfermaria.

 

Aí sim, começou a tua verdadeira prova de fogo.

 

Se até aí não tinhas noção de como estavas, na enfermaria ganhaste consciência do teu estado.

 

O AVC apanhou-te o lado direito (não mexias perna nem braço) e a fala.

 

Aos poucos, foste-te apercebendo do que se passava.

 

Ficaste assustado, não sabias como tinhas ido ali parar, mal se percebia o que dizias (ao inicio então, era desesperante, tu a falares, eu sem entender. Com o tempo fui-me acostumando a essa forma de falares e enquanto toda a gente dizia, depois de te ver, que não entendia nada, eu percebia-te e isso para nós era o suficiente.)

 

Pensavas que tinhas tido um acidente de carro (provavelmente por não mexeres um dos lados), choravas copiosamente (e eu a ter que me aguentar, só eu sei com que esforço).

 

O que te dizia hoje, amanhã já não te lembravas.

 

Choravas. Choravas muito, sempre que vias uma pessoa que reconhecias, sempre que perguntavas o que tinhas tido (normalmente era sempre: como é que o carro ficou? Perdi a minha carteira? Perdi os sapatos?)

 

Todos os dias te dizia que não tinha sido acidente e explicava o que tinha acontecido.

 

Todos os dias choravas.

 

Ainda na enfermaria, começaste a ser conhecido como houdini.

 

Primeiro, tentaste tirar tudo o que era tubo (soro, alimentação, cateteres). Tiveram que te prender braço e perna esquerda. Pior, também te tiveram que prender a direita, pois, ninguém sabe como, mas depois de estares amarrado do lado esquerdo, arranjaste forma de arremessar a mão direita e continuaste a fazer disparates.

 

O último foi arrancares o tubo da traqueotomia, para grande susto de toda a gente, e onde fui logo informada pelo médico que não sabia que repercussões isso poderia ter tido, pois apesar de estarem a pensar tirá-lo, não seria com a força bruta com que o fizeste.

 

Nem uma semana depois, já te queriam ver dali para fora.

 

Que estavas estável e que terias que aguardar vaga nos cuidados continuados, em casa.

 

Informei que não tinha condições para te ter em casa acamado, quando o único auxilio que prestam é a nivel de cudados de higiene, ainda para mais sem saber quanto tempo teriamos que esperar até ter vaga nos cuidados continuados.

 

Acabaste por estar cerca de um mês à espera de vaga, mas acabaste por ir para o mais perto de casa ( que era o que eu queria, para te poder continuar a acompanhar).

 

Como não podias continuar em enfermaria e eu continuei a "bater o pé" que não tinha condições para estares em casa, acabaste por ser transferido para outro hospital pertencente ao grupo, onde começaste verdadeiramente a tua recuperação.

12
Dez16

Quando se tem que tomar decisões

Eu

Passados dois dias de estares novamente nos cuidados intensivos, fui chamada para falar com a médica responsável do serviço.

 

O teu estado respiratório inspirava muitos cuidados, estavas entubado o que poderia provocar infecções e o mais sensato, seria fazeres uma traqueotomia.

 

Eu não sou médica, mas se não acreditar em quem estudou para isso, vou acreditar em quem?

 

Acedi e assinei o termo de responsabilidade.

 

Disseram-me que era uma acção relativamente fácil, sem grandes complexidades e sem necessidade de bloco operatório e explicaram-me os procedimentos.

 

Entre feriado e fim de semana, lá marcaram o procedimento.

 

No dia seguinte, quando lá chego, sou chamada novamente.

 

Ias ter que ir ao bloco fazer a traqueotomia, pois quando tentaram realizar o procedimento, encontraram um caroço no pescoço que dificultava o procedimento e ao contrário do que era normal, tinha que ser feito através de cirurgia.

 

Perguntei a que se devia o nódulo.

 

Desvalorizaram, respondendo-me: não lhe arranje mais complicações do que aquelas que ele já tem neste momento.

 

Estamos a fazer tudo o que é possivel.

 

Fizeste a traqueotomia, correu bem, sem precalços.

 

Continuaste em coma induzido, depois foram-te acordando.

 

Nesses dias nos cuidados intensivos, estava sempre à espera do dia em que lá chegasse e estivesses acordado.

 

Não foram muitos, esses dias. E quando isso acontecia, olhavas para mim, mas não me vias. Ou não me reconhecias.

 

Passou mais uma semana, até que te voltaram a enviar para os cuidados intermédios.

 

E a esperança voltou.

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